domingo, novembro 13, 2005

 

Prosa

Preciso prosear. Breve.

quinta-feira, novembro 10, 2005

 

Banda Sonora

Tantas milhas
Miles

Tantas léguas
Ella

Tanto mar

Que me encontro (?)
Mareada

quinta-feira, novembro 03, 2005

 

Partes

Só te sendo
Já aos poucos
Não me sinto

Sinto muito
Melhor, adsinto
Adjunta que sou
(Sempre tão perto)

Absinto-me
Abstenho-te
De Mim

Perdida em não me ter
Meus olhos me procuram
Na tua retina

Tua boca
Me move
Me sobe
Te sabe
Sem te abrir

Meus braços
Me alcancei
Já te serei

E antes disso
Me terás.

quarta-feira, outubro 12, 2005

 

Fluxo

E de uns tempos para cá, não sei mais escrever em papel. Claro, das escritas burocráticas eu ainda sou capaz. Mas assim, sem mais, de tão acostumada que estou a esse teclado e a esse ato-contínuo movimento de comunicar já quase nem penso quando só tenho que elevar um pouco os dedos, não olhar para baixo, na verdade não olhar para nada. Só deixar o fluxo. Interrompido, intermitente. Ainda fluxo?

Poder apagar sem magoar o papel: sem deixar mácula. Mais fluido?

quinta-feira, agosto 25, 2005

 
E na primeira manhã chuvosa que passo aqui me ocorreu escrever sobre porque não escrevo. Algo um bocado niilista, se é que permitem o abuso do termo: apetecer-me escrever explicando porque não me apetece mais escrever ultimamente...

Ando às voltas com um antigo conhecido. Despedi-me por pouco tempo daquela que se torna, poc a poc, uma conhecida para reencontrar esse tipo ciumento e possessivo e que faz parte de mim. Que ficou em mim feito tatuagem, já diria o Chico, que corre em minhas veias, que está nos meus ouvidos e é capaz de marear meus olhos como poucos. Esse tipo que não admite concorrência, mas que bem poderia combinar-se com minha nova conhecida. Dariam bom par, ótimos frutos, mas já sei que é impossível.

Conformo-me então em ser um elo entre o dois. Essa (des)conhecida, já madura e de aparência colorida, de menina-nena; esse conhecido, com história mais curta e tão intensa de pretenso malandro agulha, vadio só na fama, lutando a cada dia para continuar lindo, sendo de fevereiro e março e agosto e setembro. E fico aqui, feito boba, em ótima companhia, encantada como a intimidade entre dois conhecidos não pode nunca diminuir. Que aumente, então. Dedico-me a ele por esses tempos.

Boas férias a todos.

quarta-feira, julho 13, 2005

 

Plot Point

Ela tem vontade de chorar, e chora, mas de modo que os filhos não vejam. Três filhos e mais um a caminho. Sentada no metrô, com os olhos cheios d’água. O que aconteceu? Ninguém sabe, ninguém pergunta, ninguém se importa, essa é a verdade. Som de violinos.

Andar como se a rua não tivesse som, uma música qualquer tocando mais alto que os barulhos comuns da cidade. Tudo como um grande videoclipe, que graça. A vida em preto e branco me parece ainda melhor. O cinema mudo, apenas o piano ao fundo. Se bem que o piano às vezes irritava. Mas o barulho também não irrita?

A tristeza estampada no rosto, um velho a seu lado. Em pé. Sei que deveria dar o lugar, mas com três crianças é impossível ficar em pé, ele deve saber disso, afinal provavelmente ele já teve filhos, pelo menos tem idade até para os netos.

Ficar em pé cansa, e passa a ser insuportável a partir de uma certa idade. E ninguém parece saber disso, um dia todos vão envelhecer e vão sentir isso. Não vou pedir para sentar, quem faz isso? Talvez seja mesmo ignorado, melhor deixar isso de lado e me concentrar em algo melhor.

Um sonho em que não existem sons – apenas sugestões. Heavy metal.

A vida passa a não ter um sentido definido, a partir de um certo ponto. Você passa a viver em função de alguma coisa, o que é bem diferente de ter um sentido. Há algum tempo vivo em função de coisas que nem eu mesma sei, e continuo esperando por um plot point. Que não vem...

Depois de uma certa idade a gente tende a perder a fé nas pessoas. Não só nas pessoas, em tudo. O mundo todo, todas as pessoas falam, gesticulam, andam e reagem (?) como autômatos. Isso é uma pena, o que tem acontecido eu não sei, e sei que não é culpa do que estes radicais dizem, não é modernidade que mudou o homem, e sim o homem que mudou. Meu Deus, quero sentar.

Tudo parece muito confuso, talvez seja melhor, por algum instante, ouvir o que o mundo tem a dizer. Mas isso não é confortável, prefiro continuar com a minha trilha sonora escolhida, se pudesse também teria imagens escolhidas e tudo seria bem melhor para mim, pelo menos. O baixo fica em destaque, quase nem se ouvem os vocais.

Procuro o retorno e estou cansado.

Existe algum plot point?

Música ambiente, o contrabaixo dedilhado. Um rhythm ‘n blues.

quarta-feira, junho 29, 2005

 

Entorpecentes

Cocaína
Gullar
Heroína
Woolf
Crack
Kafka
Ópio?
Não:
Nada que alivie
Ou retire a consciência
Meu vício
na veia
o sangue escuro
as palavras injetadas
o silêncio - a abstinência
a crise

“palavras são erros”
“nada temos a temer, exceto as palavras”

tormento agonizante
dos que não deixam dormir
e deixam febril, desperto:
suspendem a respiração
provocam convulsão


Palavra

quinta-feira, junho 23, 2005

 

loopings e repetições

ouço-te em looping. um disco riscado, uma frase que volta tantas vezes até que eu saiba que era aquilo que queria dizer, e redescubra beleza em algo que sempre esteve ali e eu via torto. porque vejo torto e porque eu sou míope e porque também te mostras torto. saber-te, aos poucos, pelas palavras, pelo gesto e expressões. ler-te. sentir-te. saber-te. querer-te.

e, coisa de poucos dias, começo a ouvir-me em looping. e gosto, e quase sorrio ao descobrir que posso me (re)descobrir, pouco a pouco. e se sou míope, vejo melhor de perto: e mais perto que eu, quem? o eu-lírico? custou-me tempo para perceber, mas é assim de simples. saber-me pelas palavras que mal controlo, mas que aqui estão. ler-me. embarcar em mim mesma, buscar meu centro de gravidade, porque o mundo tem o dele há tempos. saber-me.


"Dane-se nada,
Dane-se tudo,
Quando você está aqui
Dane-se o mundo
Quando você sorri"

quarta-feira, junho 22, 2005

 

Solstício

Não sabia que havia estações diferentes, por mais estranho que isso possa soar àqueles tão acostumados com a gradual mudança de cenário e cores. Vivi grande parte de minha vida na mesma estação. E havia algo diferente, e aos poucos aprendi sobre isso, e conheci a transição, e meus dias se tornaram cada vez mais longos. E eu me acostumei e gostei.

Chegava ao meu primeiro solstício, o de verão, sem ao menos sabê-lo. Só sentindo. E gostava tanto que passou a ser minha estação. Mas não pôde, nem podia: pois solstício que é só solstício dura apenas um dia.

Pensava então voltar ao confortável chiarOscuro. Novo engano, novo dano: os dias se encurtavam cada vez mais, e então conheci o segundo, o solstício de inverno. Que durou tanto e foi tão escuro e tão frio que não me acostumei. Custa acreditar que tenha durado um dia, o dia mais curto: e que ao mesmo tempo, do lado outro, para outrem, tenha havido solstício de verão.

Pouco a pouco, os dias mais longos. E então sim, estava em minha estação-estância. Mas era isso? Poderia aceitar que não houvesse mudança depois de conhecer meu solstício? O ponto mais alto?

Não. Busco renovação, movimento. Acendo uma fogueira, a Agni, a João, ao Fogo, ao Sol! Exorcizo, dou forças ao Sol, volto à Idade Média; dou-Lhe forças para que Ele doure, para que Ele não desista de mim, de nós.

segunda-feira, junho 20, 2005

 

Cinema

Truffaut para brincar
Bergman para perturbar
Aronofsky para chocar
Kubrick para não respirar
de Sica para não aceitar
Salles para reviver
Sam Mendes para acreditar
Lynch para confundir
Almodóvar para surrealizar
Tarantino para mudar
Godard para sofismar
von Trier para transitar
Buñuel para não entender
Fellini para bucolizar
Kurosawa para sonhar
Glauber para aprender
Scorcese para alternar
Visconti para integrar


“Ir ao cinema com você/Um filme à toa no Paté”
“Baby, vamos ao cinema/a vida é cinema”
“E o filme disse: 'Eu quero ser poema'”


sábado, junho 18, 2005

 

Possessivos

Minha alma
Tua calma

Meu fado
Teu fato

Minha consoante
Tua distoante

Meu contexto
Teu, contesto

Meu gozo
Teu gosto

Minha alegria
Tua alergia

Meu mormaço
Teu regaço

Meu horário
Teu calvário

Minhas flores
Tuas cores

Meu pudor
Teu calor

Meu amor
Teu temor

Minha conivência
Tua complacência

Nossa convivência

quinta-feira, junho 16, 2005

 

Quebra-cabeças


Descubro-me
Aos pedaços
Em pedaços

Há que me montar
Aos poucos
Quebrar um pouco
A cabeça

Sou partes
Sou Porto
Seguro

Sou Rio
Em junho
Futuro

Saudades
No punho
Procuro

Sou partes
Sou rio
Sou porto

Sou partição
De um conjunto
Real, imaginário
Denso

Em si

terça-feira, junho 14, 2005

 

Pólos

Faz muito tempo, e aniversários são sempre assim: como velórios. O constrangimento de falar, a inadequação das frases, o deslocamento no tempo e no espaço. Tudo em comum, até mesmo o propósito da comemoração. Pois a cada momento celebramos nossa própria morte. Se festejamos a passagem de um ano, de um mês, de um dia, parece claro que aguardamos avidamente pelo fim. No entanto, quando ele se mostra presente, há o constrangimento e a comoção. Pois onde há vida não pode haver morte, não parece de bom tom, nem educado este tipo de coisa.

De toda forma, o que há é uma incômoda presença, do convidado que não estava na lista, daquele que só esperávamos encontrar mais tarde, ou, quem sabe, não encontrar. Nunca o pôr do sol pode estar mais próximo, e ao mesmo tempo mais distante: nos pólos, não há horizonte: há o infinito. E vida e morte são os pólos, que não se encontram, tendem a infinito e quem sabe lá, longe de olhares curiosos, onde até mesmo as paralelas se encontram, elas não se encontrem?

sexta-feira, junho 10, 2005

 

Palavra

A palavra começa no estômago, com um nó. Aquela palavra que quer dizer algo, aquela que estira as cordas vocais, aquela que cansa e quase dói a mão ao escrever, essa começa nas entranhas. No nó do estômago. Depois sobe, aos poucos, queimando o esôfago, causando-me febre, deixando-me enferma, quase adormecida.

E então o buscar pelo meio, e as mãos que querem agarrar uma caneta como sua tábua última de salvação, caminho ao exterior, ao comunicar. Ou a língua, inquieta, com essa inominável dormência na ponta, ou debaixo dela. A língua que busca a Língua: e o encontro, o clímax, para o posterior desinteresse e constatação de que não passará, não passou e não passa de restos orgânicos do sentir. Mimetização barata (?) do que se guarda e segue em minhas entranhas, tão carbono e hidrogênio.

Oxigênio.

quarta-feira, junho 08, 2005

 

Por um dia de (en)fado

Minha terra tem palmares,
mas também disso cá há:
não que haja tantos deles
como os que ouço de lá

nosso céu tem mais estrelas,
e o sol tem muitas cores,
um pedaço de minha vida
e parte dos meus amores

(...)

Minha terra tem problemas
Que eu não encontro cá;
Há, claro, menos temores
Mas eu sou parte de lá:
Lá estão os meus amores

Mas o que custa é pensar
Nas datas qu'eu passo cá
Dias vazios, que há
Resta mesmo é imaginar
Dias de gozo, lá estar


Aos que por acaso não conheçam, trata-se de uma paródia de Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, clássico da literatura brasileira.

 

Suspensão

A situação incomoda:
Minha vida em suspenso;

Um dia deixo de ser suspensão
E me torno precipitado
Apesar de minha grande prudência
Crio decência e saio daqui

Não quero mais minha vida em prosa
Em monografia formato A4
Duzentas laudas

Quero páginas, quero poesia
Mas isso parece muito difícil
E pouco apropriado

Quero reagir, quero efervescer
Uma tentativa:
Crescer

Quero, em verdade,
Ser soluto – essência
Ou solvente – que dilui a densidade desnecessária, equilíbrio

Não pretendo
Ser solução

segunda-feira, junho 06, 2005

 

sentir-te, sentirti

não escrevo cartas porque todas hão de ser ridículas.

um comentário seu faz-me subir o sangue
(corar)
um lembrar de você faz-me entrever os dentes
(sorrir)
um som seu faz-me fechar os olhos
(sentir)
um olhar seu faz-me o soslaio converter em mormaço
(cerrar)
um acorde seu faz-me a voz despertar
(cantar)

haveva bisogno de sentirti

sábado, junho 04, 2005

 

Azul

Confunde essa insuspeita necessidade de escrever. Trata-se de incômodo febril e nervoso, o ato da escritura. Ao menos para mim, a cada dia mais distante desse que poderia ser o meu mundo, mas não. O maldito pragmatismo. O Cansaço.

Não esperava que voltasse por esses dias, nem tanto, nem tão forte. Fazia tempo, e muitas vezes o que mais faço é esperar. Esperar uma reação, esperar que algo, em mim e por mim, se mova. Esperar? Espero e des-espero. E ao desesperar, aceito que não, o azul de Miró não estará lá fora, e certamente não vai me aparecer, ainda que o oceano aqui seja azul. Penso então que mais bem me vai esse céu azul gris, meio byroniano, mas cálido, muito mais do que tantos e tantos dias de inverno com um céu tão azul de doer a vista. Azul bebê, mas azul.

Chega de cores, chega de azul. Chego em mim, acho que finalmente. E custa tanto, tanto. Será necessário partir de mim, meu porto seguro, para encontrar o outro? Outrar-se? Mas ser porto seguro de si é encontrar terra em um navio. Para não marear-se, tomar as rédeas, ter o controle. Conduzo em estrada sinuosa, mas não sou conduzida. Ilusão confortável, talvez. A salvo, por quanto tempo?


sexta-feira, junho 03, 2005

 

Mañana

Não leia se estiver sem paciência, sem tempo ou os dois. Bobeiras matinais, nada relevante.

Agora tentando entender o que não se pode entender, sem sentido e com sentir. Suena flamenco ao fundo. Sugestões, nada muito além. Pretensão tentar encontrar forma de expressão para isso, pretensão tentar fazer deste um texto inteligível. Não é para ser, é fluxo. Fluxo tem que ser respeitado. Nem sempre seguido, mas respeitado. Para ir contra ele, de forma razoável, temos que entender e conhecer. Isso é respeito? Provavelmente...

Necessidade. Sem conceitos, por ora. Mas queria, queria que você pudesse acompanhar parte disso, mesmo que por meio de um texto que não deve fazer o menor sentido. Confusa, o que legitima a arte? De certa forma, a mesma coisa que legitima o sentir.

Meus três elementos, cinema, literatura e música. Que pretensão, meu deus. Pode se cansar, não são meus. Desde quando uma pessoa de números pode dizer que esses são seus elementos? Sou números, palavras, sentir, pensamento? Ou nenhuma das anteriores, procurando minha resposta, tantas respostas, que vão ficar sem perguntas e outras tantas que eu não vou conseguir juntar com as perguntas...

Cada pessoa tem sua expressão nos elementos. Ou deveria ter, ou a minha mania de categorizar coisas e definir me obriga a isso. Tentativa de ter controle, que nunca tenho. Sou levada, na maioria das vezes, pouco decido. Só não gosto de ter que lembrar isso sempre.

Conforto. Hoje você é flamenco. É cinema em preto e branco, talvez meio Chaplin. Mas eu não gosto de Chaplin, na verdade achava bem bobo. Até que fiquei naive (ou mais sofisticada, sei lá...), e agora gosto de alguma coisa. Por isso mesmo deve fazer sentido... Mas ainda falta um elemento, e estranhamente eu quero saber qual é.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?